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Serviço Social e questão racial

  • Por Danielle Moraes
  • 23 de nov. de 2017
  • 2 min de leitura

O Serviço Social é uma categoria profissional que tem em seu Código de Ética o compromisso de se colocar ao lado da classe trabalhadora. Tem também uma extensiva produção sobre exploração e classe trabalhadora. Mas será que na prática conseguimos, de fato, entender e mediar quem é essa classe trabalhadora? Sobre quais corpos essa exploração se reafirma?


Precisamos entender que o capitalismo não sobrevive sem a marginalização dos corpos pretos. O racismo cumpre papel essencial no capitalismo e é essa marginalização e exclusão que perpetua as expressões da questão social na atualidade.




Dentro da própria profissão, temos exemplos claros disso. Quem tem acesso a pós-graduação? Quem pode escolher ser acadêmico quando se precisar trabalhar pra ganhar o pão de cada dia? Quem permanece na ponta matando um leão por dia no atendimento aos seus usuários sem condições de trabalho, autonomia e vínculos precarizados?

Na própria academia, quem são os professores que tem acesso a cargos de chefia, visibilidade, projetos, pesquisa, extensão?


Enquanto o Serviço Social se mantiver no maniqueísmo de querer estudar classe sem se pautar na racialização do debate, permaneceremos estacados no mesmo lugar.

É impossivel, num país construído com base no escravismo, que deixa suas marcas até hoje com o nosso racismo cotidiano, falarmos de classe trabalhadora, população vulnerável, população marginalizada, sem entender e pontuar, claramente, que estamos falando de gente preta.


Não adianta falar em classe trabalhadora, em usuários de direitos (ou excluídos de direitos), sem falar quem são esses usuários e o porque deles serem excluídos. Sistema prisional, precarização do SUS, flexibilização das relações de trabalho, a luta da elite pelo fim da previdência, as altas taxas de letalidade policial. Tudo isso perpassa o racismo e suas diversas formas de expressão.


A própria valorização de autores "estrelas" da categoria profissional evidencia isso. Autores homens, brancos, de classe média alta. Ausência da obrigatoriedade de matérias de gênero e racismo na graduação. A dificuldade de mediação dos estudantes em relação a questão racial pois isso não é estimulado pelos docentes.




É importante estudar Marx, mas também é importante lembrar os nossos e lembrar que nós somos as cobaias diárias pra exploração que Marx aponta. Nossos inclusive que tem produção tão grandiosa - ou mais - do que ele. É importante lembrarmos que o racismo é estruturante da sociedade e desestruturante do povo negro.


Quem é a classe trabalhadora que tanto se fala? Essa relação exploração-dominação se dá sobre quais corpos?


Até quando a gente vai ficar batendo palma pros mesmos brancos que sempre tiveram e continuam tendo voz pra falar inclusive sobre as dificuldades que eles não vivem?



* Danielle Moraes é Bacharel em Serviço Social pela UNIRIO, pós graduanda no Instituto dos Pretos Novos em História da África e afrobrasileira, umbandista, marxista, feminista preta interseccional, membra da Associação Elas Existem e mãe do Davi.

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