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Epoderamento ou adoecimento?

  • Por Marceli Tavares
  • 17 de nov. de 2017
  • 3 min de leitura

O que mais reparo em muitas irmãs que ao se misturarem com ideologias que não foram criadas por elas, muito menos para elas, é isso: A D O E C I M E N T O. Quantas estão se descobrindo isoladas ou ainda mais frustradas, deprimidas, transtornadas, etc, nesse mundo doentio que se tornou o ativismo ou militância virtual?

Precisamos combater, sim, as mais diversas opressões quais somos submetidas, mas não é com a perspectiva dos nossos opressores que seremos capazes de superar tantas demandas, quando é o contrário que ocorre: mais nos afundamos, pois não dá pra desenvolver uma solução, com uma visão distorcida da sua realidade. Problemas, todas temos. Quantas vezes sabemos, inclusive, de uma mulher que sofreu uma violência extrema, seja do seu parceiro, de um parente, de um estranho ou em um atendimento hospitalar? Quantas acreditam que estão trocando uma opressão para na verdade viverem a ilusão de um poder que em sua prática não existe?

O que quero dizer é: Irmã, você é mais do que essas escritoras do gelo são capazes de (re)produzir. As perspectivas delas nunca te representarão, pois elas não possuem a sua vivência. Elas não sabem o que é sofrer de fato por conta de todo um sistema, simplesmente por ser quem é. Fora isso, elas estão preocupadas com a manutenção dos seus privilégios e não com nossas mazelas, até porque o contrário implicaria na perda dos direitos conquistados (impostos) por seus homens. Eu custei a compreender isso e por muitas vezes me disse feminista, por exemplo. Reconheço que se não fossem as problematizações trazidas por esta ideologia, eu não teria enxergado o quanto de machismo, que é uma ideologia também eurocêntrica, eu reproduzia, o quanto eu poderia melhorar enquanto pessoa, saber reconhecer relacionamentos abusivos, bem como ter a chamada empatia por outras mulheres, mas eu precisava melhorar ainda mais, pois eu sentia que no fundo todo aquele discurso não me contemplava ainda.

Nem a mim nem a você, minha irmã. E algo realmente faltava. Constatei que o pouco de consciência racial que eu possuía, estava ameaçado. Foi então que descobri um mundo, de pessoas imperfeitas e com problemas reais semelhantes ao meu. Pude me ver no outro e assim melhor me (re)conhecer. A minha insatisfação era por ainda estar, de certa forma, com perspectivas do meu colonizador e não em contato com a força e sabedoria ancestral que percorria em meu ser. Então, irmã, não estou falando de viver um personagem, um mundo mítico, de fantasias e delírios.

Estou falando de descolonização mental. Estou falando de saúde. De integridade em seu mais amplo significado. De reconectar-se com o que sistema se apropria, mas nos afasta, pois ele sabe perfeitamente que um povo consciente de sua história, acaba de fato adquirindo uma identidade e tomando o poder sobre o si e o mundo a sua volta. E, novamente, não podemos falar em tomar o poder de nossas vidas, se continuamos submissas a correntes ideológicas criadas e sustentadas por escravagistas.

Logo, me foi possível concluir que o motivo para tanto adoecimento, apesar de todo o tal empoderamento, não poderia ser outro além da doação de nossa força e saúde para o fortalecimento de algo que, definitivamente, não nos contempla e cada vez mais nos afasta daquilo que verdadeiramente somos e/ou poderíamos ser.

*Marceli Tavares, 32 anos, mãe, candomblecista, panafricanista e poligâmica. Pan-africanista, ganhadora do Selo Shell Iniciativa Jovem 2012 com empreendimento voltado para a terceira idade.

 
 
 

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